Há 10 meses, escrevi um artigo, publicado nesse espaço, cujo título era:
"Teremos uma crise bancária no Brasil?"
Crises bancárias não acontecem do nada, é um processo, um "quebra-cabeças".
Assim, ainda temos muito a discutir.
Por exemplo; vamos trazer nesse estágio da discussão algumas questões relevantes que aconteceram nos Estados Unidos no instante "t-1" à Crise do Subprime de 2007-2008.
Na verdade, 1 discussão.
Havia um debate, raso é verdade, ali em 2005-2006, e que, dado o avanço dos mercados americanos, se intensificava, em que se colocava a caracterização de uma bolha imobiliária em curso. Artigos e avisos ecoavam aqui e ali. No entanto, um acontecimento em específico, colocou a questão em primeiro plano: O anúncio em 02 de abril de 2007 do "pedido de proteção contra a falência" de uma das maiores empresas de financiamento imobiliário de alto risco, a New Century .
O "pedido de proteção contra a falência" nos EUA talvez seja o que temos de mais próximo a "nossa Recuperação Judicial". Assim, resume o portal G1 na época ao publicar o anúncio:
"A New Century, empresa norte-americana de crédito imobiliário de alto risco, informou nesta segunda-feira que entrou com pedido de proteção contra falência, atingida por aumento na inadimplência de clientes e corte de financiamento por seus credores, no maior colapso de uma empresa do setor nos Estados Unidos. A empresa demitiu 3.200 funcionários --54 por cento de sua força de trabalho-- e disse que irá vender seus ativos durante o processo de proteção judicial conhecido como Chapter 11.......Entre os maiores credores da New Century estão Goldman Sachs, Credit Suisse, Morgan Stanley (NYSE:MS), Deutsche Bank, Bank of America, Lehman Brothers, UBS, Citigroup e Coutrywide Financial."
O anúncio, como já dito, foi feito no dia 02-04-2007...
Agora, vejam abaixo o gráfico do índice Case-Shiller, o principal índice de preços dos imóveis dos EUA.
O ápice foi atingido em abril de 2006, faixa de 206...ele cai de forma branda em seguida...em março de 2007, ele ainda está na faixa de 204 .Observem como o índice se desenvolve justamente a partir de abril-2007, após o anúncio da New Century...2 anos depois, o índice colapsa para a faixa de 141, com uma queda de 30% aproximadamente.
Índice Case-Shiller, período 14 anos
Alguns pontos a considerar...olhado em retrospectiva, parece óbvio que alguns pontos, ligados em conjunto, num todo, não se sustentavam...no que tange ao "Case-Shiller", ele havia subido cerca de 100% de 2000 para 2006...
Assim...o sistema parecia andar em terreno "frágil", nebuloso"...faltava um "empurrão" para que todo o quadro desmoronasse.
Curioso notar também que, diferente do índice "Case Shiller", os mercados acionários americanos produziram algum "Gap".
Sim...enquanto o índice Case-Shiller tem uma queda em linha reta a partir do anúncio de "proteção contra a falência" da New Century, o índice Dow Jones ainda sobe cerca de 12% após o anúncio, e atinge a faixa de 14.000 pontos em julho; mesmo com uma queda que o faz retornar à mesma faixa de 12.500 de abril-2007, ele executa uma nova perna de alta até a faixa de 14.200. Depois, sim, ele entra em crash até o fundo de março de 2009 .
Vejam abaixo:
Dow Jones, semanal, período 1996-2015
Vamos tomar um outro exemplo, uma analogia para ilustrar o que na prática pode significar o tal "empurrão".
Qual teria sido o empurrão por trás do estouro da bolha de commodities que se viu a partir de meados de 2015, principalmente, commodities metálicas?
Pelos gráficos que passo a listar, parece claro que a evolução do PIB da China representou tal "empurrão". O gráfico abaixo reproduz a evolução do crescimento anual do PIB Chinês.... Ele tem uma alta considerável do final dos anos 80 até 1993-1994...cai até 1997...volta a engatar uma forte alta até 2007...sofre com a Crise americana...e tem forte reversão até 2010-2011...
Dali em diante, ele só faz cair...as taxas de crescimento que giravam em torno de 12% anuais atingem o fundo do poço no final de 2015, próximas a 6% anuais.
Taxa anual de crescimento PIB-CHINA
Fonte: tradingeconomics.com
Vejam os gráficos do índice "CRB Commodities", embora esse tenha um peso forte do "barril de petróleo", e da Vale (SA:VALE5) " e da ADR VALE em Nova York, e comparem com o gráfico acima; as dinâmicas são idênticas.
CRB Commodities, semanal, período 10 anos
VALE5, semanal, período 10 anos
(NYSE:VALE ADR) semanal, período 10 anos
A semana que passou foi marcada pelo anúncio da "Recuperação Judicial" da Construtora PDG, aquela que já foi a maior construtora do Brasil.....ainda, até o anúncio da "Recuperação", com um alto número de obras em execução.
Abaixo, temos o índice IVG-R, o índice formatado pelo Banco Central do Brasil para esclarecer a evolução dos preços dos imóveis no Brasil, já que espelha os preços dos imóveis dados como garantia para os respectivos financiamentos imobiliários.
IVG-R
O índice, como já demonstrado nesse espaço há poucos dias, apresenta, desde o topo em setembro-2014, uma queda de 18% nominal acumulada.
A New Century nos EUA não era uma construtora; era uma empresa de crédito imobiliário de alto risco. Assim, PDG e New Century são de segmentos distintos; porém, inegável constatar que, em algum ponto, se entrelaçam e espelham questões-problemas iguais.
Podemos, diante disso, especular que o cenário daqui para os próximos meses será o mesmo cenário visto nos EUA em 2007-2008-2009?
Qual cenário?
Ora...eu que estou perguntando, agora...qual o cenário?